EDUCAÇÃO: A SOCIEDADE EM AÇÃO*
Prefácio à publicação
do ‘Fórum Desenvolve Londrina’
Rodrigo da Rocha Loures
Presidente da FIEP - 19
de novembro de 2007
I. UM DESAFIO DE TODOS
O Brasil paga um
pesado tributo ao passado. O maior deles, sem dúvida, é o descompasso
entre o avanço da sua economia e o desenvolvimento social da sua
população. Embora os gastos públicos na área social tenham chegado a 25%
do Produto Interno Bruto (PIB), o Estado mostra-se incapaz de diminuir
desigualdades históricas.
Os gastos brasileiros
com educação equivalem a 4,1% do PIB. A média dos países da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é 4,9%. Logicamente
ainda existem carências que justificam a ampliação dos recursos. O mais
importante neste momento, porém, é rever onde e como eles estão sendo
aplicados. O problema está menos na quantidade dos investimentos e mais
na alocação e gestão dos recursos. Em resumo: se gasta muito, com baixa
eficiência e critérios injustos.
Parto do princípio de
que o nosso grande desafio é promover um salto de qualidade na educação.
Experiências internacionais de sucesso indicam que a articulação entre
governo e sociedade traz resultados mais eficazes e em menor prazo. Na
educação, unanimemente apontada como essencial para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária, a responsabilidade coletiva tem peso
crucial.
* Este texto recebeu
contribuições de Antonio Carlos G. da Costa, Augusto de Franco, Carlos
Artur K. Passos, Gina G. Paladino, Ilma Barros, João Carlos Cascaes,
Rafael Lucchesi, Silvio Lohmann e Solange Patrício.
Considero, portanto,
um privilégio escrever o prefácio deste oportuno documento intitulado
"Ensino Fundamental: Instrumento de Mudança. Diagnóstico e Propostas" e
espero poder evidenciar a qualidade do trabalho e o valor da iniciativa
levada à frente pelo Fórum Desenvolve Londrina.
II. DIAGNÓSTICO
CONHECIDO
Dados da Unesco
indicam que o Brasil tem a mais alta taxa de repetência na primeira
série entre 48 países pesquisados: 32%. Entre os integrantes da OCDE a
taxa está próxima de zero. O analfabetismo brasileiro também é elevado,
na casa de 10%, contra 8,4% da Colômbia e 8% do México, por exemplo.
Além disso, a escolaridade média da população, de 4,9 anos, é muito
pequena para uma nação que almeja disputar mercados internacionais. No
nosso país, 78% das pessoas têm, no máximo, o ensino fundamental
completo e apenas 7,5% chegam a cursar o ensino superior.
No entanto, a
política de universalização do ensino fundamental, incentivada pela
Unesco e adotada pelo Brasil na década de 90, pode ser considerada um
sucesso em termos numéricos. Hoje, praticamente não há crianças fora das
salas de aula. Esse cenário fornece uma visão confortável, porém
equivocada, de que não existem problemas nesse nível de ensino. As
crianças vão, sim, para a escola. Contudo, aprendem pouco e,
desestimuladas, largam os estudos na adolescência. A má qualidade das
escolas, sua distância da realidade e da necessidade do aluno tiram das
salas de aula justamente os brasileiros em pior situação econômica, que
acabam por não ingressar no ensino médio. Apenas 14,4% da população têm
ensino médio, enquanto China e Índia apresentam índices de 45,3% e
23,8%, respectivamente.
Chama a atenção o
fato das universidades públicas brasileiras, que representam menos de 2%
das matrículas da educação como um todo, receberem quase 30% dos
recursos. Mesmo assim, este setor não está isento de um baixo desempenho
quase generalizado. Tomando o ensino das engenharias como exemplo, vemos
o quão ruim é o cenário do ensino superior em nosso país. Dificilmente
encontramos escolas equipadas de forma adequada e professores
atualizados. Apesar da grande necessidade por bons engenheiros, as
universidades raramente oferecem ambiente adequado para o padrão de
ensino necessário aos desafios do século 21.
As atividades
econômicas que mais dependem de engenheiros sabem que há muito a ser
feito nessa formação. Recentemente a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) liderou a realização de um amplo diagnóstico que resultou na
formulação do Programa Inova Engenharia, que contempla um conjunto de
ações, propostas de novas tecnologias de ensino e atualização dos
currículos à luz das exigências globais. Diversas entidades públicas e
privadas já aderiram a este movimento, que ainda vai necessitar da
contribuição de todos nós para atingir os seus objetivos.
III. MÉTODO E FOCO
A melhoria da
qualidade da educação é uma das prioridades se quisermos alcançar o
futuro sustentável da nação. Para que essa melhoria seja alcançada é
necessária uma transformação no processo de ensino, principalmente no
nível fundamental, que é a fase onde se criam os alicerces para a uma
boa formação profissional.
A escola está
desconectada da sociedade, é conservadora e burocrática, tem uma visão
tecnicista do processo de educação, com foco somente na pedagogia. É
hora de fazer acontecer ‘a escola viva’, permitindo que a plenitude do
potencial das crianças seja alcançada sem os obstáculos da burocracia e
dos modelos mentais ultrapassados. Como fazer uma intervenção nas
escolas para que elas caminhem na direção da evolução dos seus alunos?
Sugiro três dimensões
a serem consideradas: a primeira são as metodologias de ensino usadas
pelos professores em sala de aula. Elas devem atrair e manter o
interesse dos alunos e acompanhar as mudanças no planeta. A segunda,
pré-requisito da primeira, é a capacitação contínua dos professores. A
terceira é a inovação: é preciso desburocratizar o sistema. Toda essa
transformação no ensino fundamental, se implantada de forma eficaz, terá
impacto direto também na educação profissional, viabilizando a inserção
das pessoas no mundo da produção.
Se observarmos o modelo de educação básica e profissionalizante das escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Sistema “S” de uma forma geral, que são instituições administradas pela iniciativa privada, percebemos uma grande preocupação com as mudanças contínuas na forma de ensino. O foco está em acompanhar as transformações do mundo dos negócios, que vão desde a globalização até a velocidade na absorção e desenvolvimento de novas tecnologias.
IV. O FÓRUM DE
LONDRINA
Iniciativas como a do
Fórum Desenvolve Londrina mostram que a sociedade brasileira não está
insensível à situação da educação. Durante um ano, o Fórum promoveu
debates, palestras e consultas a especialistas buscando soluções para
melhorar o ensino fundamental de Londrina, uma iniciativa comunitária
relevante, que certamente servirá de base e exemplo para outros
municípios.
Para nós, como
empresários e como cidadãos, que acompanhamos de perto a questão há
muitos anos, o trabalho realizado pelo Fórum reforçou algumas convicções
e provocou uma série de considerações sobre o papel e a responsabilidade
da sociedade civil organizada. É inegável que a vontade dos cidadãos
pode alterar a realidade positivamente, mas também é fato que não basta
apenas encaminhar as soluções às autoridades competentes, é preciso o
acompanhamento da sociedade na sua implantação. E este é o próximo
desafio desse Fórum.
O certo é que
precisamos multiplicar exemplos como o de Londrina. Temos que fazer em
casa a nossa ‘lição de casa’, contando com a cooperação de nossos
familiares, vizinhos, amigos e colegas de trabalho. Casa é a localidade
onde vivemos, trabalhamos e convivemos. É o nosso município, o nosso
bairro ou a nossa rua. É ali que devemos atuar, pois fica mais fácil
propor soluções para problemas que batem na nossa porta.
Devemos lembrar que a
educação é uma dimensão do desenvolvimento local e assim deve ser
encarada por nós que temos interesse em melhorar a nossa vida e os
padrões de convivência social da localidade onde moramos. O importante é
não ficar esperando uma solução que venha de cima ou de fora. Nós já
podemos fazer a diferença na nossa localidade, tal como está fazendo o
Fórum Desenvolve Londrina.
Este é um caminho
promissor: mobilizada por um processo endógeno de desenvolvimento local,
cada localidade pode se transformar em um novo e poderoso ambiente
educativo, potencializando esforços individuais e coletivos para
melhorar o ensino escolar.
V. LONDRINA E O
DESAFIO GLOBAL
O Fórum Desenvolve Londrina é em si uma inovação na educação. Se a comunidade vai para a escola ou escola vai para a comunidade, não importa tanto. O importante é iniciar o diálogo entre as partes. A iniciativa está alinhada com estratégias internacionais na área de ensino, visto que os desafios da sustentabilidade, da globalização e a velocidade das tecnologias, entre outros fatores, estão levando grandes instituições a repensar seus modelos de ensino, principalmente nas escolas de administração.
As universidades americanas iniciaram um diálogo entre o mundo dos negócios e a sociedade para a construção de uma nova visão de educação, num movimento chamado Global Forum. Lançado em 2006, seu propósito é a criação de uma educação com significado, da qual as empresas podem se beneficiar, mantendo lucros e trabalhando pelo bem da humanidade. A idéia que fundamenta essa iniciativa é a criação de valores sustentáveis para a geração de melhores oportunidades de negócios nos próximos anos.
Peter Druker, um dos
maiores gurus de administração de empresas, já afirmou que todos os
problemas que existem hoje no planeta devem ser vistos como
oportunidades de novos negócios. Para ele, para enxergar por este prisma
é preciso quebrar paradigmas que povoam a cabeça daqueles que lideram
processos de educação. Poderemos aprender mais sobre este tema em junho
de 2008, quando será realizado o primeiro Global Forum da América
Latina, tendo Curitiba como sede.
Outro exemplo
inovador de aproximação entre a sociedade, o mundo empresarial e a
educação foi o chamamento feito no ano 2000 pelo então Secretario Geral
da ONU, Kofi Annan. Ele pediu para as grandes escolas de administração
um exemplo de um líder que tivesse passado pelos seus cursos e que
tivesse entendimento e consciência para lidar com a complexidade dos
problemas do planeta. Respondendo a esse desafio, Peter Senge e Otto
Scharmer criaram um programa para preparar líderes com uma percepção
mais abrangente do contexto onde sua organização está inserida. Assim
surgiu o Emerging Leaders for Innovation Across Systems (ELIAS) –
Líderes Emergentes para Inovação entre os Sistemas.
Essas iniciativas de
grandes escolas mundiais de administração comprovam a importância da
preocupação do Fórum Desenvolve Londrina com a educação e a necessidade
urgente de mudanças. A escola precisa estar em contato constante com a
realidade dos estudantes para que os conteúdos das salas de aula tenham
sentido para os alunos. Essa necessidade foi apontada pelo mestre Paulo
Freire há pelo menos 30 anos (“Educar para transformar”), mas
ainda é pouco praticada por aqui. Virou produto de exportação e faz
sucesso em diversos países do mundo.
Está claro que o
nosso país - e o planeta - precisa de mudanças com velocidade e em
escala. Elas devem estar sedimentadas nos princípios do bem comum e só
vão acontecer por meio da modernização do sistema de educação. Para que
isso se efetive é necessário fomentar parcerias entre os setores
público, privado e a sociedade. Por isso, a proposta do Fórum Desenvolve
Londrina ganha uma responsabilidade a mais: ela pode se tornar um modelo
de sistema de educação local totalmente integrado e que respeita as
diferenças individuais de aprendizagem que são cruciais para o sucesso
dos estudantes.
Em outro aspecto,
considero que a iniciativa londrinense também pode contribuir para
combater a pobreza extrema, outro grave problema brasileiro. Com acesso
a uma educação fundamental adequada e de qualidade, as famílias de baixa
renda podem encaminhar seus filhos para as escolas técnicas e com isso
garantir um futuro melhor a eles. Alinho-me com aqueles que acreditam
que não existe outra fórmula para resolver o problema da miséria que não
seja através da boa educação.
Acredito na educação
como meio para a inclusão social. Porém, para que isso aconteça
efetivamente são necessários programas de ensino modernos, com cursos em
larga escala voltados ao desenvolvimento integral das pessoas, com
aplicação de metodologias e tecnologias adequadas, com respeito e
reconhecimento da valorização do ser humano. Com isso, poderíamos criar
uma sociedade com consciência democrática, igualitária e humanizada
capaz de realizar importantes transformações. Seria algo como educar
para a felicidade!
O Fórum Desenvolve
Londrina é importante para alavancar tal estratégia. Com o alinhamento
entre a escola e a comunidade haverá maior consonância entre os
currículos escolares, a realidade dos estudantes e a constante evolução
do mercado de trabalho. Se esse novo contexto for efetivamente
realizado, será criado um processo de aprendizagem de ciclo duplo. Por
um lado, os professores estarão preparados para inovar e implementar a
educação além das disciplinas, levando em consideração a diversidade.
Por outro, os alunos passarão por um ensino fundamental fortalecido, o
que facilitará a sua aprendizagem na contínua busca do
auto-desenvolvimento.
Ao propor uma
educação mais humanística e centrada no indivíduo como protagonista do
seu processo, o movimento de Londrina cria uma nova visão para a
formação de cidadãos autônomos, críticos, empreendedores e, ao mesmo
tempo, conscientes do seu papel como agentes de transformação. Neste
processo, as empresas têm um papel fundamental, pois podem contribuir,
com sua visão estratégica, para o surgimento de uma sociedade muito mais
ativa do ponto de vista de participação nos rumos da sua localidade.
VI. A EDUCAÇÃO NO SISTEMA FIEP
Em 2003, logo após assumir a presidência da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, realizamos um diálogo com a sociedade para saber quais inovações seriam necessárias para que a indústria paranaense também inovasse. Com o resultado de seis encontros promovidos em todo o Estado construímos um direcionamento para a nossa gestão. Naquele momento já detectamos que a educação era considerada o foco central.
Desde então a
educação tem sido a gênese das ações e programas do Sistema Fiep. Nossas
iniciativas levam em conta as análises feitas pelo Observatório Regional
Base de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis), por nós patrocinado.
Ele nos mostrou, por exemplo, que 4,5% das crianças de 7 a 14 anos estão
fora do sistema educacional no Paraná. No ensino médio, a situação é
mais grave: 47% dos formandos no ensino fundamental não chegam a se
matricular no período subseqüente.
Com base nestes
dados, desenvolvemos estratégias para ajudar a melhorar os indicadores.
Ficou claro que, além de investir na qualidade da educação básica, era
preciso oferecer aos jovens uma opção real para sua sobrevivência,
unindo a formação geral com uma capacitação profissional que pudesse
prepará-los para o mercado de trabalho. Este é o DNA do Colégio Sesi de
Ensino Médio, que criamos em 2005. Hoje, são 20 unidades atendendo 2.900
alunos no Paraná. A iniciativa une ensino formal e educação cidadã,
oferecidas pelo Sesi, ao curso profissionalizante, com o know how
do Senai.
Tendo a educação como
prioridade, o Sistema Fiep preparou-se para oferecer um maior número de
opções à sociedade. Investimos fortemente na melhoria e modernização da
infra-estrutura e na formação de profissionais. O Sesi expandiu os
programas de educação infantil, ensino médio e de escolarização de
trabalhadores, alcançando novos municípios.
Os cursos de
aprendizagem industrial, técnico, de qualificação e pós-graduação do
Senai atendem a demanda do setor industrial em todo o Estado. Em função
da qualidade e da taxa de empregabilidade - na casa de 80% - a procura
por vagas cresce a cada ano. Só as matrículas de aprendizagem industrial
aumentaram cinco vezes desde 2003.
No Fórum Futuro 10
Paraná, coordenado pela Fiep e demais parceiros, as mais de 5 mil
lideranças participantes de todo o Estado colocaram a educação como tema
predominante, que permeou todos os debates sobre o desenvolvimento do
nosso Estado. O futuro, portanto, para formadores de opinião de todas as
regiões, depende da educação. Na base, ela é um direito de todos e
fundamental para o desenvolvimento pessoal. Como capacitação, ela
representa a possibilidade de expansão econômica do Estado.
A educação concentra
o maior número de voluntários entre os participantes do Movimento Nós
Podemos Paraná, que é apoiado pelo Sistema Fiep e visa alcançar os
Objetivos do Milênio da ONU no Estado até 2010. Quase 30% dos sete mil
inscritos no movimento escolheram participar deste objetivo para
organizar ações e programas que garantam educação básica de qualidade
para todos.
A mesma meta é
trabalhada pelo Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial do Sistema
Fiep, que realizou três Encontros da Comunidade Escolar, em 2005, 2006 e
2007. No último, os debates concentraram-se na gestão escolar, apontada
por 60% dos participantes do encontro como um dos grandes problemas da
evasão.
VII. AS METAS DO
SISTEMA INDÚSTRIA
Dados estatísticos
mostram as correlações entre educação, salário, produtividade e
desenvolvimento econômico. Calcula-se que um ano a mais de escolaridade
aumenta em 15% o salário no Brasil. Há estudos que apontam a baixa
escolaridade como responsável por algo entre 30% e 50% da desigualdade
de renda salarial no nosso país.
A escolaridade média
do brasileiro é de cinco anos, mas a indústria, já globalizada,
necessita um nível de escolaridade de padrão mundial. De 2004 para cá,
98% dos profissionais contratados pelo setor industrial brasileiro nas
regiões metropolitanas têm pelo menos 11 anos de escolaridade. A
contradição é evidente. Se por um lado há um enorme contingente de
pessoas desempregadas, por outro, a indústria enfrenta dificuldades para
completar seus quadros.
A educação é a base
da produtividade. Portanto, para crescer não basta capital físico, é
preciso que haja pessoas qualificadas para operá-lo e desenvolver novas
soluções e idéias. O baixo nível educacional da força de trabalho é um
dos principais limitadores do crescimento do Brasil. Por isso, possuir
uma mão-de-obra educada – capaz de absorver e melhorar as novas
tecnologias – é crucial para o desenvolvimento econômico do país.
O Brasil terá de
enfrentar rapidamente o grande gargalo da formação de mão-de-obra
qualificada para o setor industrial. O descompasso entre a demanda por
trabalhadores qualificados e a baixa escolaridade do brasileiro ameaça a
indústria nacional de um apagão de recursos humanos bem formados.
Diversos países
obtiveram resultados bastante positivos ao encaminhar para a formação
técnica os estudantes que preferem não completar os programas escolares
acadêmicos. Temos que olhar de perto esses exemplos, cientes de que
copiar o modelo de outro país, por mais bem sucedido que tenha sido, não
nos dá garantia de bons resultados. Precisamos buscar soluções próprias,
que sejam economicamente viáveis e socialmente justas.
Recentemente a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou um gigantesco programa
nacional de investimentos patrocinado pela iniciativa privada. Chamado
Educação para a Nova Indústria, prevê aplicar R$ 10,5 bilhões na
formação de 16 milhões de brasileiros em quatro anos. Desse montante, R$
1 bilhão será investido na educação e formação de cerca de 600 mil
pessoas no Paraná, através do Sistema Fiep. O programa expressa a
convicção dos industriais de que o crescimento sustentável do país tem
como alicerce a educação de qualidade e que o envolvimento da sociedade
é indispensável para se levar a frente ações de médio e longo prazos.
VIII. PRÁTICAS
EMPRESARIAIS DE EXCELÊNCIA
A partir de 2003 também iniciamos uma pesquisa sobre ações do mundo dos negócios voltadas para beneficiar a sociedade. Lançamos no Brasil o movimento mundial BAWB – Business as an Agent of World Benefit (Negócios para um Mundo Melhor), que tem por objetivo disseminar experiências de sucesso de empresas que estão pensando no bem comum. Uma vez ao ano apresentamos os seus resultados em conferências internacionais. Três delas aconteceram em Curitiba.
Em 2006, a 4a
Conferência foi realizada em Fortaleza, no Ceará, contando com o
mapeamento de iniciativas de nove estados da região Nordeste. Neste ano,
a Conferência BAWB foi realizada em Vitória, no Espírito Santo,
contemplando os projetos de empresas da região Sudeste. Foram
apresentados 43 programas desenvolvidos pelo setor empresarial que
contribuem para a construção de um mundo melhor para as futuras
gerações.
De forma
surpreendente, em quatro anos de pesquisa BAWB, percebemos que a grande
maioria dos projetos das empresas para beneficiar a sociedade está
voltada para a educação. Quando aprofundamos a reflexão sobre as razões
dessa preocupação concluímos que a complexidade do mundo dos negócios
nos dias de hoje tem como foco central a busca da sustentabilidade, um
novo fator que exige um pensamento sistêmico. E não estamos falando
somente do tripé da sustentabilidade - meio ambiente, social e
econômico. Mais do que isso, falamos também da sustentabilidade das
empresas.
IX. NOVOS ATORES
DA SOCIEDADE CIVIL
Este mesmo raciocínio
permeia as discussões em outras instituições da qual faço parte, como o
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), da Presidência da
República, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social e o Conselho do
Itaú Social.
Também em 2006, um
grupo formado por diversas entidades do setor empresarial, organizações
não governamentais e órgãos públicos lançou um amplo movimento nacional
denominado “Compromisso de Todos pela Educação”, com metas a serem
atingidas até 2022, quando o Brasil completa 200 anos de independência.
O movimento traçou estratégias para mobilizar a população pela causa e
para monitorar os resultados esperados.
X. DEZ LIÇÕES
ESSENCIAIS
1. Estamos
convencidos, tal como Bernardo Toro, de que a educação sozinha não
resolve nenhum grande problema, mas nenhum grande problema se resolve
sem educação. A educação não é panacéia, mas é indispensável.
2. Aos empresários
cabe ‘fazer’ e ‘influir’, atuando de maneira política a mais proativa
possível diante dos fatos. Não basta a crítica sem participação e nem a
participação sem crítica. É preciso criticar e participar ao mesmo
tempo.
3. A política de
educação deve ser um subproduto das políticas de desenvolvimento
econômico, social e político. Não adianta pensá-la fora de um grande
plano nacional de desenvolvimento. Foi isso que aconteceu nos países que
deram certo.
4. O papel do mundo
empresarial é desenvolver novos modelos de conteúdo, método e gestão,
que possam ser assimilados política e tecnicamente pelas redes públicas
de ensino. Não faz sentido substituir o Estado, mas alterar
substancialmente seus modos de ver, entender e agir. Para isso é preciso
exercer capacidade efetiva de pressão sobre a esfera governamental.
5. A educação não
pode ser vista de forma isolada, mas como parte da estratégia para
construirmos um país economicamente próspero, socialmente justo,
politicamente democrático, ambientalmente sustentável e culturalmente
diverso. Trata-se de uma política transversal. Não funciona, porém,
voltada apenas para si mesma. Ela, no entanto, pode ajudar-nos
dramaticamente a superar o ciclo de reprodução intergeracional da
pobreza, da ignorância e da brutalidade, que estão levando nosso tecido
social ao limite da ruptura.
6. Na formulação
curricular (o que, como e em quanto tempo ensinar), devemos levar duas
questões à condição de base do processo: Que tipo de ser humano queremos
formar? Que tipo de sociedade para cuja construção pretendemos
contribuir com a formação deste tipo de ser humano? Se isto não for
feito, trabalharemos de costa para as novas demandas do processo de
desenvolvimento requerido pelas mudanças em curso no Brasil e no mundo.
7. É preciso envolver
a escola na vida da comunidade e a comunidade na vida da escola. É um
processo de mão dupla. O caminho está delineado no artigo 14 da LDB, que
trata da gestão democrática da escola.
8. Sem o envolvimento
dos empresários como protagonistas sociais e políticos, seu papel ficará
reduzido ao de meros e secundários financiadores do que já existe.
9. Dinheiro é
importante, mas, mais importante do que o dinheiro é disponibilizar
agenda (tempo, energia, talento e articulação). A educação é uma causa
pela qual vale a pena trabalhar e lutar.
10. O fundamental é
garantir o salto de qualidade na educação.
XI. REFLEXÕES
FINAIS
Superar os desafios
na área educacional implica a definição de estratégias de longo prazo
que não podem sofrer descontinuidades com mudanças de governos. Por
isso, a sociedade civil tem de se articular, pressionar, fazer política
para garantir a adoção e continuidade das ações.
É preciso aumentar o
compromisso com a educação pública de qualidade. Os empresários estão
despertando para o fato de que é impossível ao país ser competitivo se
não tiver competência para formar cidadãos responsáveis e profissionais
qualificados. A educação de excelência é a infra-estrutura social
indispensável das economias contemporâneas vencedoras e das democracias
sólidas.
A educação deve ser
uma das principais prioridades de uma agenda estratégica para o Brasil.
Devemos estabelecer uma nova política educacional que tenha como
objetivo alcançar, nos próximos 20 anos, patamares educacionais
equivalentes aos dos países que apresentam os melhores índices de
escolaridade. Para tanto, é necessário manter todas as crianças na
escola e melhorar a qualidade do ensino básico, reduzindo a níveis
aceitáveis o insucesso escolar e suas desastrosas conseqüências
(repetência e evasão).
Esta pauta também
deve contemplar o compromisso com itens como a erradicação do
analfabetismo jovem (14 a 24 anos) e a redução do analfabetismo adulto.
Se conseguirmos fazer
bem nossa lição de casa poderemos universalizar o ensino médio nos
próximos quinze anos, abrindo caminho para um acesso mais massivo ao
ensino superior, semelhante aos dos países mais desenvolvidos do mundo.
Mas o ponto principal é esse: temos que terminar a nossa lição de casa, concentrando nossos esforços na base da carreira escolar dos brasileiros.
O Fórum Desenvolve Londrina está no bom caminho.